Por: Vitor Valeri
Imagem ilustrativa sobre as influências do conforto de fones de ouvido in-ear monitor (IEMs) (Imagem: Vitor Valeri)
O conforto proporcionado por um fone de ouvido in-ear monitor (IEM) pode variar consideravelmente de pessoa para pessoa. O motivo disso é, falando de forma simplificada, a anatomia da orelha e do canal auditivo de cada indivíduo. Cada um possui um formato diferente e isso irá interferir no encaixe, podendo causar dores durante e/ou após o uso do fone intra-auricular.
Quando falamos em orelha, nos referimos ao ouvido externo, tecnicamente falando. O ouvido externo é o responsável por captar/direcionar os sons e levar até o ouvido médio, onde a membrana timpânica do tímpano está.

A captação do som é feita inicialmente pelo pavilhão auricular, região onde a maioria dos fones in-ears utilizam para se apoiar, com exceção dos que possuem o formato cilíndrico, chamado de “bullet” no inglês, que se apoiam utilizando somente o canal auditivo (meato acústico externo).

A estrutura que mais fornece maior área para apoio, proporcionando estabilidade no encaixe dos IEMs, é a concha, que se subdivide em algumas áreas do ouvido externo.
A concha é formada pelas seguintes estruturas:
• Cavidade: parte mais aberta, sem sulcos, que está localizada ao redor da entrada do canal auditivo (meato acústico externo).
• Cimba: parte com sulcos, localizada acima da entrada do canal auditivo.

Para se fixar melhor no ouvido externo, alguns fones intra-auriculares utilizam a cimba em conjunto com as seguintes estruturas da orelha:
• Trago: espécie de aba em forma de “M”, que fica apontada para fora do ouvido, localizada próximo à lateral da entrada do canal auditivo.
• Antítrago: é a “borda” da concha, que “segura” o fone na região inferior do ouvindo.

Dependendo do formato e volume da estrutura principal [1] do in-ear monitor, a cimba, o trago e o antítrago podem acabar ficando doloridas. Porém, é possível sentir dores também no canal auditivo devido ao bocal do fone.
[1] A estrutura principal do fone in-ear monitor (IEM) é referida como “house” (casa) ou “shell” (concha) no inglês.

Abaixo uma imagem mostrando o canal auditivo sem nenhum fone de ouvido inserido.

O bocal dos fones de ouvido in-ear monitors (IEMs), chamado de nozzle em inglês, influencia no conforto devido às suas dimensões. Seu comprimento e diâmetro podem pressionar a parede do canal auditivo (meato acústico externo) e causar dores.

O comprimento do bocal (nozzle) irá influenciar na profundidade da inserção do fone de ouvido in-ear e dependendo do formato do canal auditivo, as curvas mais profundas podem ser atingidas pelas ear tips (“ponteiras”, “borrachinhas”), podendo gerar desconforto.
O diâmetro do nozzle pode dificultar a inserção do fone no canal auditivo. Se você forçar o encaixe, o in-ear pode até entrar, mas as paredes do meato acústico externo irão sofrer com a pressão excessiva, causando dores.
É importante observar o formato do bocal, pois há modelos com borda e sem borda, chamada de “lip” em inglês. A borda serve para segurar as ear tips no lugar, impedindo que elas escorreguem e saiam do nozzle.

A lip (borda) do nozzle possui um diâmetro maior que o corpo principal do bocal e consequentemente irá influenciar tanto no conforto quanto no encaixe da ear tip. A diferença entre o diâmetro do corpo principal e da lip costuma ser em torno de 1mm, mas há casos em que a diferença chega a ser menor (exemplo: 0.6mm).
Dependendo da maleabilidade da ear tip, é possível encaixar o tronco (stem) [2] dela no bocal do in-ear. O diâmetro interno do stem da ear tip deverá ser em torno de 2mm menor que o diâmetro da lip do nozzle do fone para garantir um encaixe sem grandes problemas.
[2] O tronco (stem) da ear tip é a região central que sustenta a cúpula e se encaixa no bocal do fone de ouvido.

O tronco das ear tips pode ter diferentes espessuras. Consequentemente, é importante medir o diâmetro interno do stem para ter sucesso no encaixe da ear tip no bocal do fone. Abaixo uma imagem para exemplificar, onde a ear tip transparente possui uma diferença de 3mm entre o diâmetro interno e externo de seu tronco.

A essa altura do texto, você já deve ter percebido que o conforto depende da interação entre o bocal do fone e a ear tip. Porém, é importante também levar em consideração o comportamento entre a ear tip junto com o bocal e o canal auditivo.
Dependendo das características do bocal do fone e da ear tip utilizada para auxiliar no encaixe e vedação do canal auditivo, o conforto de um IEM pode ser ruim ou bom dependendo do formato do canal auditivo esquerdo e direito das orelhas. Para auxiliar no entendimento, eu recomendo ler o artigo “O que são ear tips? Como ponteiras transformam sua experiência com fones in-ear (IEMs)” publicado aqui no Hi-Fi Hub.
As principais situações da causa de desconforto costumam se resumir aos cenários abaixo.
Cenário 01: Inserção profunda
• Canal auditivo largo.
• Fones in-ear com um bocal menos espesso (diâmetro menor).
• Stem (tronco) das ear tips mais alongado.
• Dome (cúpula) das ear tips menor (menos “gordinha”) e menos maleável.
Cenário 02: Canal auditivo estreito
• Fones in-ear com bocal largo (diâmetro maior).
• Dome (cúpula) das ear tips maior (mais “gordinha”) e mais rígida.
Cenário 03: Bocal do fone extremamente largo
• Não há problemas com o diâmetro do canal auditivo.
• Ear tip possui um bom diâmetro no dome e no stem, além de ser é maleavel.
• Pressão nas paredes do canal auditivo causada pelo diâmetro do bocal do fone.
Cenário 04: Canal auditivo com curvas
• Não há problemas com diâmetro do bocal do fone.
• Os primeiros milímetros do canal auditivo têm curvas.
• Stem (tronco) das ear tips é mais alongado.
• Dome (cúpula) das ear tips é mais rígido.
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