Por: Vitor Valeri
Extrair um som de alta qualidade em um DAP (Digital Audio Player) com sistema operacional (SO) Android exige um certo conhecimento, pois você irá lidar tanto com ajustes de recursos implementados pela fabricante do dispositivo quanto com configurações nos aplicativos utilizados. Pensando nisso, escrevi este artigo listando dicas para configurar DAPs Android no intuito de servir como um guia de início para ajustar players portáteis da melhor forma.
Listei três dicas para configurar DAPs (Digital Audio Players) com SO (sistema operacional) Android para ajudar da melhor forma os players de música e proporcionar um som de alta qualidade, assim como uma experiência agradável durante a utilização do dispositivo.
Formatar o cartão microSD que será utilizado no DAP Android antes de utilizá-lo para a reprodução de músicas é importante, pois afetará a performance de acesso aos arquivos de áudio. Formatando o cartão, você garantirá que a interação entre o SO e a memória flash NAND (microSD) seja mais rápida.
Quando se formata um cartão microSD utilizando o próprio SO do Digital Audio Player, cria-se uma FTL (Flash Translation Layer), camada de software que possui a função de gerenciar a comunicação entre o microSD e o sistema operacional. Esse processo garante que os dados sejam lidos e gradados de forma adequada. Para saber como formatar corretamente o cartão no seu DAP Android, acesse o tutorial deste artigo.
Ao desativar aplicativos e recursos do Google nos DAPs Android, é possível ganhar mais fluidez na navegação pela interface do player. Confira como fazer isso através do passo a passo que fiz nesta publicação.
Quando você configura os aplicativos de música do seu DAP Android de maneira adequada, é possível obter um som de alta qualidade. Na maioria das vezes o que atrapalha a reprodução das faixas é a manipulação do sinal de áudio pelos apps, podendo influenciar negativamente ao tocar as músicas.
Nos apps de streaming, configurar corretamente é algo crucial para possibilitar a reprodução sem perdas, sem interferências. O primeiro passo é desabilitar a normalização de volume. No caso do Apple Music, esse recurso é chamado de “verificação de som” (sound check).
Há dois tipos de normalização de volume que podem ser adotados pelos serviços de streaming: por faixa e por álbum. Quando é por faixa, cada música é alterada para ter o mesmo volume de seus sons durante toda a reprodução. Considerando que a produção de um álbum leva em conta um determinado volume para se obter um bom equilíbrio e facilitar a audição, sem mascarar qualquer nuance da gravação, a normalização de volume por faixa não é a melhor escolha.
De acordo com artigos publicados citados nesta publicação que escrevi, a melhor escolha tem sido a normalização de volume por álbum. O motivo é que na normalização por álbum todas as faixas recebem o mesmo ganho ao reproduzir as músicas. Nesse método, é utilizado a faixa com volume mais alto como referência para o restante das músicas, fazendo com que as faixas mais baixas fiquem no mesmo volume da com maior LUFS (Loudness Units Full Scale) [1].
A vantagem na normalização de volume por album se reflete no processo da produção música, onde o artista sabe a sonoridade de todas as músicas criadas assim que a primeira faixa (com volume mais alto) estiver concluída. O resultado desta técnica é um álbum onde você consegue ouvir todos os instrumentos e vozes com facilidade. Porém, ainda há outro problema, que é o aumento do LUFS das músicas com o passar das décadas, como mostrei neste artigo.
Considerando todos os problemas relacionados ao LUFS das faixas, a melhor escolha acaba sendo a de desativar a normalização de volume. Isso é especialmente importante no caso de playlists, onde há músicas de diferentes álbuns.
[1] LUFS (Loudness Units Full Scale) é uma forma de medir o volume percebido levando em conta a maneira como as pessoas escutam o som (exemplo: enfatizando as frequências médias, onde está a voz humana, sobre os graves e agudos). Quanto maior o n° na LUFS, mais alto será o volume. Exemplo: -5 LUFS tem um volume mais alto que -10 LUFS.
Tanto o crossfade quanto o automix são recursos presentes nos apps de música que alteram a sonoridade no início e no fim de cada música. Estas funcionalidades tentam mudar a transição entre as faixas e isso literalmente pode cortar o som gravado pelo músico.
A criação de um álbum possui intenção na ordem das faixas e como elas iniciam e terminam. Decisões são tomadas tanto pelos artistas quanto pelos engenheiros de som, que mixam e masterizam os arquivos de áudio.
Dito isso, se você pretende ouvir a música de acordo com as intenções da equipe responsável pelos artistas e engenheiros de som, a melhor escolha é desativar o crossfade e o automix no aplicativo de música.
Utilizar o equalizador serve para tentar “corrigir” ou tornar “mais agradável” o som reproduzido pelo fone de ouvido ou pela caixa de som. Porém, isso pode acabar causando distorções indesejadas no áudio, degradando o som. Note que aplicar equalização não necessariamente irá trazer prejuízos, caso o processo seja feito com conhecimento.
Para minimizar os riscos de se ter distorções no áudio das músicas, é importante testar como o fone ou a caixa reage as mudanças no equalizador. Além disso, é essencial que você tenha uma certa noção das frequências do som e um determinado conhecimento sobre como manipular adequadamente um equalizador, utilizando de maneira consciente os recursos disponíveis para ajuste.
Incentivo a utilizar apps de equalização de terceiros ao invés do disponibilizado por aplicativos de streaming, pois normalmente o resultado é melhor. Entretanto, na minha opinião, acho, por exemplo, mais interessante analisar a trocar de ear tips (“ponteiras”, “borrachinhas”) ou ear pads (“almofadas”), no caso de fones de ouvido, na tentativa de “corrigir” a sonoridade produzida.
Conforme eu expliquei neste artigo, uma ear tip pode alterar significativamente o som de um fone. Caso tenha um in-ear monitor (IEM), recomendo a leitura.
O bit perfect é a transmissão do áudio do aplicativo para o DAC (Digital to Analog Converter) sem interferências do sistema operacional ou do aplicativo de reprodução de música. Embora um DAP Android possua modificações em seu SO para driblar o SRC do Android, como menciono neste artigo, utilizar apps com suporte a bit perfect garante a reprodução de faixas sem perdas ao conectar via um DAC ao Digital Audio Player.
Quando um fone de ouvido cabeado é conectado às saídas de fones (3,5mm ou 4,4mm) do DAP Android, na grande maioria dos casos, não há interferências na transmissão dos dados de áudio, não importa o app de música que você utilize. Porém, a situação muda, caso você conecte um DAC ou um DAC/amp externo ao seu DAP.
No caso da conexão de um DAC externo ao Digital Audio Player, as alterações feitas pelo fabricante no SO não farão efeito, sendo necessário que o app de música tenha recursos para proporcionar o bit perfect. Para esse cenário, recomendo a utilização de apps com suporte a bit perfect.
O app USB Audio Player Pro é ideal para aqueles que assinam os serviços de streaming Tidal e Qobuz. Caso queira saber mais sobre este aplicativo, acesse o artigo que escrevi sobre ele aqui.
Se você quer reproduzir músicas localmente, que estão gravadas no seu cartão microSD, indico os seguintes aplicativos:
• FiiO Music
• Neutron Music Player
Há outros aplicativos interessantes para reproduzir música via streaming e localmente como, por exemplo, o Hiby Music, o Musicolet, o Poweramp, dentre outros. Mas, como não utilizei nenhum deles, prefiro indicar somente o que usei e conheço melhor.
Para sanar dúvidas frequentes que surgem entre os usuários ao configurar seus DAPs, fiz uma lista de perguntas e respostas. Confira a seguir.
Como a reprodução de músicas não exige velocidades de gravação e escrita altas, eu indico cartões microSD com classe A1 e Speed Class (classe de velocidade) 10.
A classe A1 se refere à “Application Performance Class” (Classe de desempenho para aplicativos), uma classificação criada pela SD Association para garantir um bom desempenho de aplicativos que utilizam o microSD para armazenar seus arquivos. Essa padronização serve para indicar o IOPS de leitura e gravação dos cartões microSD. No caso da A1, a exigência é uma gravação mínima de 500 IOPS e leitura mínima de 1500 IOPS.
Cartões microSD classe 10 tem a garantia de que o produto terá uma velocidade de gravação de no mínimo dez megabytes por segundo, ou seja, nas condições ideais, você deve conseguir gravar suas músicas no cartão com uma velocidade de transferência de 10 mbps.
Se atentar à estas classificações de leitura e escrita dos cartões microSD é importante, pois os apps de música podem armazenar as faixas baixadas no cartão no intuito de permitir a reprodução de álbuns e playlists sem depender da conexão com a internet, ou seja, para escutar uma música offline.
Como DAPs Android não possuem muita memória RAM como um celular, o ideal é que você abra/execute um app de música por vez. Cada vez que for utilizar outro aplicativo, certifique-se de fechar o que estava sendo utilizado anteriormente. Caso queira entender mais a fundo sobre como o sistema operacional Android gerencia o uso de recursos, leia este artigo que escrevi.
Sim, em algum momento os apps de música podem perder o suporte às atualizações via Play Store (loja de apps do Google) em DAPs Android. Entretanto, a tendência é que o encerramento do suporte por parte dos desenvolvedores de aplicativos de streaming ocorra é de 7 anos ou mais, visto que atualmente temos a seguinte exigência mínima para ser possível executar um app:
• Amazon Music: Android 10.0 (Q)
• Apple Music: Android 7.0 (Nougat)
• Deezer: Android 6.0 (Marshmallow)
• Spotify: Android 7.0 (Nougat)
• Qobuz: Android 6.0 (Marshmallow)
• Tidal: Android 7.0 (Nougat)
• YouTube Music: Android 8.0 (Oreo)
Outro ponto importante a se considerar é que as fabricantes de Digital Audio Players adotaram nos últimos anos um chipset mais popular, o Snapdragon da Qualcomm, um SoC amplamente utilizado no meio de dispositivos com o sistema operacional do Google. Isso aumenta a chance de compatibilidade. Claro, há ainda outros fatores a se levar em consideração e acredito que este artigo que escrevi sobre a evolução dos DAPs Android possa esclarecer essa questão.
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