Fones no trabalho: mais que música, proteção e saúde auditiva

Por: Vitor Valeri

Hobbysta de fones há mais de 15 anos, fundou o site Hi-Fi Hub e é administrator dos grupos Fones High-End e Fones Low-End no Facebook.
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Publicado em: 13/10/25 às 18:40 - Atualizado em: 13/10/25 às 18:45
Imagem - Fones no trabalho: mais que música, proteção e saúde auditiva Imagem ilustrativa sobre proteção da audição dos trabalhadores utilizando fones de ouvido (Imagem: Vitor Valeri/Hi-Fi Hub)

Os fones de ouvido não servem só para ouvir música, eles podem ser utilizados para proteger a nossa audição. A capacidade de isolamento passivo e/ou ativo em fones permite, em alguns casos, que você os utilize como um EPI (equipamento de proteção individual). Porém, essa indicação depende do tempo de exposição, da intensidade e da frequência do ruído, além da susceptibilidade individual relacionada ao sexo e à idade da pessoa.

A utilização de fones de ouvido adequados no trabalho

Utilizar os fones de ouvido adequados no trabalho pode ser uma alternativa aos protetores auriculares para proteger e preservar a saúde auditiva do trabalhador, evitando a PAINPSE. Porém, não são todos os casos em que é indicado utilizar fones com fim de proteção auditiva, como você verá mais abaixo.

O que é PAINPSE?

PAINPSE é a Perda Auditiva Induzida por Nível de Pressão Sonora Elevado. Trata-se da perda da capacidade de ouvir sons por ficar muito tempo exposto a níveis intensos de ruídos no local de trabalho. Com o passar dos dias, meses e anos, a pessoa não consegue mais entender, por exemplo, o que alguém disse à ela, devido à dificuldade de ouvir certas frequências do espectro do som.

A gota acústica causada pela PAINPSE

De acordo com Aline Vicenzi Ferreira em seu artigo “Ocorrência de perda auditiva por nível de pressão sonora elevado em trabalhadores de uma indústria do ramo metalmecânico de Caxias do Sul-RS”, publicado na revista Distúrbios da Comunicação da PUC-SP em setembro de 2012, o dano da audição do trabalhador ocorre da seguinte forma:

“Maior perda na frequência de 4 kHz, progredindo para 3 e 6 kHz. Posteriormente, avança para as demais faixas de frequências – 8, 2, 0,5 e 0,25 kHz. O traçado do audiograma é caracterizado pela gota acústica, denominado entalhe entre as frequências de 3 kHz e 6 kHz.”

Gota acústica identificada em audiometria (Imagem: Reprodução/Proergon)

O que causa a PAINPSE?

Segundo Aline, os seguintes aspectos influenciam no surgimento da PAINPSE:

• Tempo diário de exposição ao ruído (Exemplo: 8 horas)
• Frequências do som do ruído (Exemplo: predominância na faixa de 3 kHz a 6 kHz)
• Tempo de repouso acústico (Exemplo: 10 minutos)
• Intensidade/Nível do ruído (Exemplo: 85 dB)
• Anos efetivos de exposição (Exemplo: 10 anos com exposição diária de 7h)
• Susceptibilidade do indivíduo (Exemplo: idade, história familiar de déficit auditivo)

O tempo de exposição e o nível de ruído no ambiente de trabalho

Conforme os a tabela “Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente” do anexo 1 da NR15, dependendo do tempo de exposição e do nível do ruído, pode ser perigoso permanecer em determinado ambiente sem proteção auditiva alguma por um período “prolongado”. Por exemplo, se o lugar onde você trabalha houver um barulho constante com 85 dB de intensidade, haverá danos se ultrapassar 8 horas de permanência no local.

Tabela dos “Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente” do anexo nº1 da NR15 (Imagem: Reprodução/Ministério do Trabalho e Emprego)

De acordo com Ferreira, o som pode ser entendido como “qualquer variação de pressão em um meio elástico (no ar, água ou outro meio) que o ouvido humano possa detectar, ou seja, uma vibração que é transmitida na forma de ondas e percebida pelo indivíduo como “agradável””. Segundo Aline, quando o som é indesejável, incomoda ou não tem uma combinação harmoniosa de sons, o classificamos como sendo “ruído ou barulho”.

A NR7 recomenda ao trabalhador um tempo de repouso acústico de no mínimo 14 horas, após ficar exposto à ruídos com um nível de 85dB por 8h seguidas, para realizar o exame chamado audiometria [1]. Ou seja, ao ser exposto, são necessárias várias horas para voltar à capacidade de audição anterior à realização do trabalho.

Pensando nisso, é interessante atenuar ao máximo a exposição ao barulho no ambiente em que se está trabalhando. Os fones de ouvido podem ser, por vezes, uma solução mais confortável, se comparado aos protetores auriculares, (“protetores de ouvido”, “plugs de ouvido” ou “abafadores”).

[1] A Audiometria mostra a capacidade de audição em determinadas frequências de som.

O que um fone de ouvido precisa ter para abafar o barulho no trabalho?

Um fone de ouvido precisa ter um bom nível de isolamento passivo. Caso o fone tenha cancelamento de ruído ativo (ANC), deve-se também analisar o quão efetivo o ANC de terminado modelo consegue ser na anulação do ruído ambiente.

Quais tipos de fones de ouvido abafam bem o barulho?

Os fones de ouvido do tipo in-ear são os que abafam melhor o barulho, principalmente ao utilizar ear tips (“ponteiras”, “borrachinhas”) de forma correta. Porém, os fones do tipo over-ear e on-ear fechados (closed-back) [2] também podem proporcionar um bom nível de isolamento do ruído ambiente. Estes tipos de fone possuem um bom isolamento passivo.

[2] Fones fechados (closed-back) são caracterizados por terem uma estrutura selada, sólida, na lateral, sem a presença de grades. Porém, ainda pode haver um pequeno furo para aliviar a pressão gerada pelo funcionamento do alto-falante (driver).

Fone de ouvido over-ear closed-back (fechado) Kuba Disco (Imagem: Vitor Valeri/Hi-Fi Hub)

O que é o isolamento passivo de ruídos em fones de ouvido?

O isolamento passivo de ruídos em fones de ouvido é o quanto a estrutura física do fone consegue atenuar o barulho do ambiente em que o usuário está. A eficiência para isolar o som irá depender dos seguintes fatores:

• Anatomia da pessoa
• Encaixe no ouvido
• Materiais utilizados na estrutura do fone

Dependendo da anatomia da pessoa, incluindo características como o formato da cabeça, o cabelo, a presença de barba, as curvas do canal auditivo, dentre outras, o isolamento passivo proporcionado pelo fone de ouvido pode ser diferente para cada indivíduo. Isso afeta não só o quanto de barulho é isolado, mas também a performance na reprodução de sons do fone.

Se a anatomia humana já altera a eficácia do isolamento passivo em fones, o formato de cada modelo de fone também, pois isso afetará a qualidade do encaixe no ouvido. Por isso, importante que a desenvolvedora pesquise a média do formato dos ouvidos e cabeças. Isso permitirá que se crie uma carcaça mais ergonômica para o fone.

Os materiais utilizados na estrutura do fone também podem influenciar no quanto do som será atenuado de forma passiva. Cada tipo de material possui uma propriedade acústica diferente, permitindo que o som passe com mais ou com menos dificuldade.

Caso a capacidade de isolar passivamente o ruído ambiente não seja boa, uma alternativa é utilizar o isolamento ativo de ruídos através do ANC (“active noise cancellation”).

O que é o isolamento ativo de ruídos em fones de ouvido?

O isolamento ativo de ruídos em fones de ouvido é quando há um gasto de energia elétrica para atenuar o barulho do ambiente. Isso é feito através do “cancelamento de ruído ativo” (ANC).

O que é o cancelamento de ruído ativo?

O cancelamento de ruído ativo é uma tecnologia criada para anular determinados sons do ambiente, gerando um silêncio parcial. O ANC funciona através da previsão do som que está sendo gerado no ambiente.

Como o ANC funciona?

O ANC funciona através da utilização de microfones internos e externos no fone para analisar os sons gerados pela música reproduzida e os barulhos do ambiente. Desta forma, tenta-se prever quais frequências serão geradas no local onde o usuário está para gerar uma onda oposta (invertida) à do ruído ambiente. Quando as ondas se encontram, há o cancelamento delas e o silêncio é gerado.

Etapas do cancelamento ativo de ruído (Imagem: Vitor Valeri/Hi-Fi Hib)

Quando o “Active Noise Cancellation” é efetivo?

O “Active Noise Cancellation” só é efetivo para ruídos que são gerados de forma contínua com mesma frequência (exemplo: frequências abaixo de 1000 Hz, onde se tem barulhos de motores de ônibus, carros, ar-condicionado, aviões etc.).

Quando o ANC do fone de ouvido falha?

Quando há sons abruptos no ambiente, o ANC do fone de ouvido falha, pois ele não consegue prever os sons que serão gerados a cada segundo que passa. Por esse motivo, é impossível obter silêncio total utilizando fones de ouvido em uma academia com caixas de som tocando música em um volume alto.

Para o ANC do fone de ouvido funcionar, o som tem que ser constante, sem grandes variações no tom e na frequência. Além disso, é necessário que haja um bom selo para isolar os sons da música do ruído ambiente. Por isso é importante que você utilize uma boa ear tip (“ponteira”, “borrachinha”) ou ear pad (“almofada”).

Por este motivo, nem sempre utilizar fones de ouvido com ANC é efetivo, dependendo do tipo de som ambiente que se está exposto no trabalho. Caso haja constantemente mudanças nos sons, com diferentes tons e frequências, o indicado é utilizar protetores auriculares. Saiba mais sobre protetores auriculares no artigo “Protetor Auricular: Por que você deve utilizar?”.

O que um fone precisa ter para entregar o melhor isolamento?

Para entregar o melhor isolamento do ruído ambiente de forma o fone de ouvido precisa ter um bom isolamento passivo e não deve depender muito da presença da tecnologia de cancelamento de ruído ativo (ANC). Um bom exemplo disso são os fones de ouvido do tipo in-ear que possuem o formato “bullet” (bala) em que a estrutura tem uma forma cilíndrica e há o uso de ear tips (“ponteiras”) de silicone triple flange (três “guarda-chuvas” de diferentes tamanhos) ou ear tips de espuma.

Fone de ouvido in-ear Etymotic ER4XR (Imagem: Igor Porto)

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