Por: Vitor Valeri
Utilizar um celular com saída para fones 3,5mm (P2) para cumprir a função de um DAP (Digital Audio Player) é parcialmente possível. Infelizmente a experiência não é a mesma devido a diferenças relacionadas a recursos, estrutura física externa e otimizações em termos de hardware interno e software, incluindo funcionalidades especificas de aplicativos e sistema operacional.
O Digital Audio Player (DAP) é um dispositivo eletrônico desenvolvido especificamente para reproduzir músicas na forma de arquivos de áudio em formatos como, por exemplo, MP3, WAV, FLAC, ALAC, dentre outros. Entretanto, há outras características que fazem do DAP diferente de outros aparelhos.
Fisicamente, um DAP costuma ter um display (tela) menor que os encontrados em celulares, pois não há a necessidade de se algo grande para visualizar uma lista de músicas ou a capa de um álbum. Além disso, a resolução da tela costuma ser de 720p ou menor, fazendo com o consumo de energia seja menor.
Outra característica física que se encontra nos DAPs é a presença de botões físicos que permitem o controle da música sem que o usuário precise ligar a tela do disposto para avançar para a próxima faixa ou pausar a reprodução. Alguns modelos possuem também um knob [1] para ajustar o volume.
Há conexões no DAP que são voltadas para o áudio como as saídas 3,5mm e 4,4mm que podem ser utilizadas para conectar fones de ouvido, amplificadores dedicados ou DACs com entrada óptica e/ou coaxial. Há alguns modelos que contam ainda com saída IIS (Inter-Integrated Sound).
[1] Knob é um botão que roda como a coroa de um relógio.
O hardware interno de um DAP é formato por diversos componentes, onde alguns deles são utilizados pensando no desempenho da reprodução do áudio como, por exemplo, capacitores e relógios (clocks) de alta precisão. As fabricantes costumam separar fisicamente nas placas de circuito impresso (PCB) em regiões. São elas:
• Alimentação de energia para os componentes
• Pré-amplificação e amplificação (área responsável por tratar sinais analógicos)
• Processamento do sinal digital (chips DAC e componentes relacionados)
Essa separação é necessária para evitar interferências eletromagnéticas na transmissão do sinal de áudio.
Os DAPs possuem diversos recursos em seu sistema operacional para permitir um controle melhor do áudio reproduzido. São eles:
• Controle do bitrate para codecs de áudio Bluetooth: alguns DAPs possuem a opção de definir um bitrate mais alto ou mais baixo para um codec Bluetooth, permitindo que se tenha mais estabilidade na transmissão do sinal e um consumo de bateria menor. (exemplo: bitrate do codec LDAC em DAPs da FiiO).
• Desabilitar o carregamento da bateria no modo DAC USB: alguns DAPs permitem que o usuário desabilite o carregamento da bateria ao conectá-los em um computador ou em um DAC externo.
• Mais passos para ajudar o volume: um número maior de passos para ajustar o nível de volume em um fone de ouvido facilita a regulagem do áudio da música para algo que seja mais confortavel para os ouvidos da pessoa.
• Níveis de ganho: proporcionam um ajuste mais fino da potência de saída fornecida pelo dispositivo, possibilitando um controle mais preciso ao ajudar o nível de volume, sendo útil para se adequar à fones de ouvido com impedância e sensibilidade diferentes.
Os DAPs Android não executam o sistema operacional do Google de forma padrão. As fabricantes de Digital Audio Player realizam alterações para que não haja interferências na transmissão do áudio, que podem ser causadas pelo SO e pela execução de aplicativos instalados.
O Android em DAPs é alterado para que:
1 – Ocorra o by-pass do SRC (Sample Rate Conversion) [2] aplicado pelas APIs de áudio do Android.
2 – Não haja interferências de outros aplicativos no áudio transmitido, permitindo que o app de música executado tenha acesso exclusivo à API de áudio.
Essas alterações no SO do Google permitem a transmissão bit perfect, cenário onde não há interferências no caminho percorrido pelo áudio a nível de software.
[2] SRC (Sample Rate Conversion) faz o resampling (redimensionamento), que converte todos os arquivos de áudio para a taxa de amostragem de 48 kHz.
Os celulares podem cumprir de forma parcial a função de um DAP. Para facilitar o entendimento, separei as características de Digital Audio Players que um smartphone, com saída para fones, consegue entregar das que não são possíveis para um telefone.
Caso o usuário utilize um celular com saída para fones somente para a reprodução de músicas, é possível obter os seguintes benefícios que DAPs possuem:
• Chips DAC de boa qualidade: alguns celulares utilizam chips DAC de boa qualidade.
• Consumo de bateria não compartilhado: ao desinstalar no celular todos os aplicativos não relacionados a música, é possível obter uma eficiência energética melhor.
• Sem distrações: Ativando o modo avião do celular, além de desinstalar apps de mensagens, e-mail, dentre outros não relacionados a áudio, não haverá notificações para distrair.
• Slot para cartão microSD: Alguns celulares ainda possuem slot para cartão microSD, mas isso já é algo mais raro de se encontrar atualmente.
Há características que DAPs possuem que celulares com saída para fones não conseguem proporcionar. São elas:
• Ausência de botões físicos para controle da música: sem a utilização de botões físicos, é necessário ligar a tela do celular toda vez que você quiser avançar para a próxima faixa ou pausar a música.
• Hardware interno não é otimizado: não há o desenvolvimento de placas pensando na proteção do sinal de áudio contra interferências e não se utiliza componentes para melhorar o som (capacitores e clock de melhor qualidade).
• Maior potência de saída: fones de ouvido over-ear com menor sensibilidade e maior impedância podem impedir que um celular ofereça uma boa qualidade de som.
• Menos opções de conexão: não é possível utilizar fones de ouvido com cabos balanceados 4,4mm ou conectar o celular via cabo óptico ou coaxial a um DAC externo.
• Não há recursos voltados para áudio no sistema operacional: comparado aos DAPs, celulares não possuem recursos voltados para proporcionar um controle melhor do áudio como, por exemplo, um maior número de passos de volume e a possibilidade de ajuste entre diferentes níveis de ganho.
• Sem otimização do Android para permitir a transmissão do áudio sem interferências: não há o by-pass do SRC aplicado pelas APIs de áudio do Android.
Recomendação de artigos relacionados ao tema:
• A evolução dos chipsets e a otimização do Android em DAPs
• Como é o consumo de memória RAM em DAPs Android
• Por que utilizar um DAP (Digital Audio Player)?
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