Por: Vitor Valeri
Cabo personalizado para fones de ouvido (Imagem: Alex Sander/Hi-Fi Cabos BR)
A entrevista com o fabricante de cabos de fones de ouvido Alex, fundador da empresa “Hi-Fi Cabos BR”, foi uma ideia que tive no intuito de trazer uma “luz” para os entusiastas do áudio de alta fidelidade. Foi abordado desde a questão do preço até os potenciais benefícios de se utilizar cabos customizados, que permitem infinitas possibilidades através da escolha “a dedo” pelo comprador, determinando as características de todos os componentes.
Com base em minha experiência e nas dúvidas mais frequentes que já vi em fóruns e grupos no Facebook, WhatsApp e Telegram, elaborei algumas perguntas que foram respondidas com muito empenho. O Alex gostou tanto de responder aos questionamentos feitos por mim, que fez questão de deixar uma mensagem.
“Primeiramente quero agradecer por achar relevante essa entrevista, fico feliz de responder, e achei que as perguntas geram muito valor para o leitor.”
Sem mais delongas, confira a entrevista sobre cabos de fones!

Resposta (R): Sim, os componentes mais caros com certeza influenciam diretamente na durabilidade do cabo. Porém, se vale a pena pagar a mais por uma maior longevidade do produto, acredito que em certos contextos seja obrigatório.
Construir um cabo com boas peças foi uma das coisas mais satisfatórias que tive na minha experiencia no hobby. Um cabo de pureza mais refinada e conectores que aliam beleza e funcionalidade trazem uma satisfação que não dá pra descrever ao utilizar em conjunto com todo o setup.
Honestamente, não acho que o cabo é o primeiro item da lista daquele audiófilo que está no início de sua jornada. Mas, em minha opinião, com certeza um cabo de alta pureza, com conectores mais caros, é um item indispensável. Digo isso pois já gastei mais dinheiro em cabos que fones e com certeza um bom setup é composto por um bom cabo.
Para quem está começando no hobby, cabos personalizados (custom) que possam ser utilizados em vários fones, tenham sua cor preferida e sejam duráveis, também é uma ótima recomendação. Penso desta forma devido a experiência que tive no início de meu hobby.
Notei que era normal os cabos originais do fone darem problema ou ficarem com aspecto de velho. Ao utilizar cabos custom de qualidade, se tem a garantia de que durante a experimentação de novos fones o cabo original não seja desgastado e o fone não perca tanto valor de revenda.
Para mim, é importante utilizar um cabo de qualidade naquele momento em que estamos experimentando diversos fones com certa frequencia no intuito de conhecer o nosso próprio gosto. Além disso, ao comprar um cabo personalizado, existe a chance de resolver necessidades específicas como, por exemplo, ter cabos mais longos ou curtos de acordo com a maneira que a pessoa utiliza os fones. Costumo atender muitas pessoas nesse contexto.

R: É o conjunto de componentes que fazem a diferença para se ter uma boa experiência. Durante o processo de escolha de um cabo, uma das minhas prioridades é o “alívio”, o ajuste de centro de gravidade do cabo.
Para mim, a distribuição do peso do cabo é extremamente importante pois, dependendo do contexto, é possível usar um cabo mais pesado ou com centro de gravidade “desbalanceado”. Dependendo da forma como a pessoa utiliza o fone como, por exemplo, parado na mesa ou em movimento, essa característica fará, em minha opinião, com que esse “detalhe” seja crucial para se obter uma boa experiência.
Antes de terem contato com um cabo feito por mim, grande parte dos meus clientes não se importavam com a questão do balanceamento de peso do cabo. Um exemplo de cabo que fiz pensando nessa questão foi um que possuía capa em tecido do plugue 3,5mm até o splitter (divisor) e depois mudava para uma capa de PVC/TPU transparente até os conectores que encaixavam no fone.

Fazer um cabo com diferentes materiais que envolvem os filamentos de metal transformou a experiência para aqueles que utilizam seus fones em movimento como, por exemplo, músicos, principalmente bateristas. Tive essa ideia de design em 2022 ao tentar pensar em uma maneira de proporcionar uma melhor distribuição de peso para os cabos que fazia. Foi um dos primeiros problemas que solucionei após um certo tempo de experiência construindo cabos.
O que me fez dar o “clique” para essa ideia do balanceamento de peso dos cabos foi quando comprei alguns fones que possuíam um cabo com peso “bizarramente desbalanceado”.
R: Sim. Os conectores 3,5mm ou 4,4mm banhados com ródio são consideravelmente superiores aos que possuem banho de níquel e ouro. A vantagem aqui não se resume somente à condutividade, mas oferece uma resistência a desgaste maior, sendo uma das principais vantagens da utilização de um conector com ródio.
Os cabos que confecciono com plugues banhado a ouro possuem uma camada generosa de banho. Porém, o conector com ródio ainda continua sendo mais resistente, ficando “como novo” por vários anos.
R: Na minha opinião, nem sempre é valido. Um cabo “full” modular (possibilidade de troca dos conectores/plugues nas duas pontas) pode ser um investimento alto, mas se o valor não for um problema e o cliente quer ter tal facilidade, eu acho valido.

Anteriormente, eu achava que plugues fixos (exemplo: 3,5mm, 4,4mm, 6,35mm) era o ideal. Pensava que ter, por exemplo, um cabo com plugue 4,4mm fixo e conectores que encaixam no fone (exemplo: 2-pin ou MMCX) modulares, eram a melhor escolha. Porém, ao trocar de celular por um modelo sem saída para fones, mudei de ideia.
Não gosto de utilizar fones de ouvido Bluetooth, pois os meus modelos cabeados são muito superiores em termos de som. Como não abro mão da qualidade, me peguei utilizando cabos modulares que permitiam a troca entre o conector 4,4mm por um plugue USB-C. Mesmo que na maioria das vezes o cabo com USB-C não fosse para utilizar o fone para música, fazia sentido no meu dia a dia.
R: Para explicar isso vou utilizar a minha história com fones e cabos. Quando decidi adquirir fones de ouvido que demandaram um esforço e investimento mais altos que o normal (comprar fones entre R$ 1000 e R$ 3000), senti que tinha “verdadeiramente entrado no hobby”. Nesse momento, percebi que aprendi a selecionar melhor modelos, de acordo com a minha preferência por sonoridade e por forma de uso no dia a dia.

Ao chegar nessa “etapa”, notei que ficou muito difícil escolher um único fone. Porém, quando você consegue achar aquele “especial”, que te preenche em diversos quesitos, é aí que recomendo investir em um cabo “caro”. Na minha opinião, penso que como nessa hora o foco tende a ser o melhor aproveitamento do conjunto, do sistema como um todo, sendo válida a compra de um bom cabo, de alta pureza, mais sofisticado.
Eu diria que este ponto onde se tem um fone que você considera muito bom somado a um sistema de áudio legal e um bom cabo é a melhor faze do hobby.
R: Como já fiz cabos de 150 reais e ultrapassei a marca de R$ 6000 reais em um único cabo, podendo testar diversas configurações, entendo o motivo de tanta polemica por trás desse assunto. É difícil definir um “Sweet spot” em meio a tantos cabos que testei e porque cada pessoa buca uma coisa diferente.
Essa desconfiança com cabos é devido ao preço e às características descritas pelos fabricantes. Mas sim, existe uma faixa de preço que acho que pode fazer vale a pena o investimento “alto”. Mas há mais de um que considero assim e tudo irá depender do objetivo da pessoa, do que ela quer atingir.
Já comprei muito cabo para teste que vi que era falsificado quando o produto chegou. Cheguei a receber cabos pintados com tinta! Além disso, tambem tive contato com modelos que utilizavam técnicas de isolamento que não dá para serem levadas em conta a longo prazo. Exemplo: filamentos embebecidos em óleo. Esse tipo de fio pode não ter uma vida útil longa. Se o foco é um cabo durável, busque fabricantes confiáveis.

Ao procurar cabos com conectores e capas de qualidade, além de filamentos com certificado de pureza, atestando que de fato eles passaram por técnicas acreditadas, julgo que os modelos que mais proporcionam benefícios pelo custo são aqueles vendidos entre R$ 1.000 e R$ 1.500. Há também boas opções por R$ 800, mas não se tem tanta liberdade para a escolha de componentes.
Para alguns clientes meus cabos de mil e quinhentos reais não custam nem 10% do valor gasto no fone mais os equipamentos utilizados para tocar (DAC, amplificador, Digital Audio Player etc.). Dependendo do modelo do fone, o cabo custa os mesmos dez por cento do valor total pago.
R: Aqui está basicamente o que eu já considero o “end-game” dos cabos. Inclusive, se você tiver dinheiro, pode até montar uma coleção de cabos de alta pureza e verificar por si mesmo os “placebos”. Pois nessa faixa de preço já se pode esperar por isso. Mas, de acordo com a quantidade de equipamentos que se tem, pode fazer total sentido para a pessoa.
Eu tenho a opinião subjetiva de que cabos podem influenciar no som. Porém, na minha experiência, depois de ultrapassar a faixa de R$ 3.000 a R$ 3.500, não senti nenhum efeito relevante. Acima desses valores, já considero que pode haver um efeito placebo.

As alterações de sonoridade que percebi ao mudar de cabos eram em termos de timbre dos instrumentos. Na minha opinião, o assunto de cabos mudarem o som é mal interpretada, chegando ao ponto de se pensar que um cabo pode aplicar uma equalização no som. Não acho que se trata disso.
Em cabos que utilizam um refinamento rigoroso e tratamento de pureza nos condutores, considero que as diferenças são nuances e estão relacionada mais o timbre que a alteração na distribuição das frequências (graves, médios e agudos). Cheguei a desconfiar de minhas faculdades mentais quando escutei.
Essa mudança no timbre do som foi perceptível ao utilizar cabos com fio de platina ou fios com metais misturados em que se tinha paládio no meio para alterar o contorno do grão, a capacitância e a indutância do sinal. Depois disso, eu não consigo ir contra a “conspiração”, pois testei com meus próprios ouvidos.
R: Sim, é. Fiquei pensando nessa ideia de trazer mudanças significativas no som dos fones utilizando cabos após tantas polêmicas envolvendo o assunto. Foi então que criei uma linha de cabos que fazem exatamente isso.

O modelo mais vendido até o presente momento foi o chamado “AKHENATON”, que muda completamente sua percepção dos graves e deixa os agudos mais suaves. Isso foi possível pois alterei a impedância, capacitância e a indutância artificialmente, através da junção de diferentes componentes de alta precisão em conjunto com fios com pureza refinada que alteram as frequências de forma passiva, funcionou muito bem e o resultado é incrível!
R: Eu entrei no mundo dos cabos quando resolvi fazer um cabo de prata pura para o meu primeiro fone “definitivo”. Nessa época, eu não entendia nada do hobby, nunca tinha ouvido falar que o cabo mudava o som ou algo assim. Então, não fui influenciado por nada nem ninguém. Simplesmente fiz o cabo e quando fui ouvindo o fone.
Após algum tempo, percebi que os agudos ficavam diferentes quando eu mudava para o cabo de prata que fiz. Foi quando comecei a perguntar nos grupos sobre o assunto, já que isso estava me deixando curioso, mas o pessoal ficava me caçoando. Eu sinceramente não sabia o motivo de eu estar percebendo mudanças no som e resolvi estudar sobre o assunto.

Após pesquisar sobre as influências por trás da pureza dos metais utilizados nos cabos e a respeito da sinergia que influencia no sistema. Li sobre artigos científicos sobre as características de cada metal, sobre contorno de grão e um monte de textos acadêmicos difíceis de entender.
Quebrei a cabeça para fazer a leitura de vários relatórios que possuíam conclusões que explicavam os motivos pelos quais um metal influenciava e fazia o som de um cabo soar diferente do outro que utilizava um material diferente. Desta forma, eu não me senti mais um “louco”.
Depois de minha pesquisa bibliográfica, comecei a testar todo quanto é tipo de fio, até chegar perceber que cabos acima de R$ 3.500 não me faziam notar diferença alguma no som dos fones de ouvido.
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